A Gândara surge pela primeira vez na literatura portuguesa pela mão do poeta e romancista Carlos de Oliveira (1921-1981). Escritor neo-realista, com uma ligação umbilical à região que o cerca, é nela que vai encontrar a envolvência e a temática que irão servir de ponto de partida para toda a sua produção literária. O "ambiente quase lunar habitado por homens" que tão bem conhecia, em que a pobreza e ignorância endémicas se juntam ao abandono, o marasmo cultural e as injustiças sociais, representam naturalmente para o autor o cenário conforme as exigências da estética neo-realista que dava então os primeiros passos e a que com entusiasmo aderira. A "descoberta" e a divulgação de toda esta realidade, até então praticamente desconhecida, aliadas à "riqueza do seu trabalho de linguagem", fazem hoje de Carlos de Oliveira o responsável pelo aparecimento, a partir dos anos sessenta do século passado, de um grande número de escritores que, tendo igualmente a Gândara como pano de fundo, nela (sobre ela) vão desenvolvendo a sua actividade criativa.