Ela pisou no acelerador com a mesma força que estava usando para aplacar a dor que sentia. Com o vidro aberto, deixou que o vento e a chuva esbofeteassem seu rosto, punindo-a por tamanha burrice. Escutou ele pedir para parar de correr. Era impossível. Corria dela mesma. De repente, tudo mudou. O carro pareceu ganhar asas e levantou no ar, girando muitas vezes antes de, finalmente, tocar o chão. Esse momento pareceu durar uma eternidade. Depois restaram apenas escuridão e silêncio. Abriu os olhos e tomou consciência da dor que sentia. Não aquela dor que sentia antes, agora era dor física. De cabeça para baixo, tentou ver onde ele estava. Chamou seu nome algumas vezes, então, desistiu. Percebeu que outros sons se juntaram ao barulho da chuva. Eram pessoas em volta do carro querendo ajudar. Sentiu dor e frio, muito frio. Seus olhos teimavam em querer fechar, mas mantinha-os abertos enquanto escutava aquele som que ficava cada vez mais forte. Eram as sirenes, benditas sirenes! Enfim, chegaram. Só nesse momento ela permitiu que seus olhos se fechassem. Foi tudo muito rápido. Mais rápido que um piscar de olhos.,