Aurora viveu uma breve relação com um homem casado e terminou por medo de se comprometer. Beatriz se envolveu com Bruno - ela casada há 17 anos, ele há dez -, e os dois pensam em se separar dos respectivos cônjuges. Berenice é desquitada e foi demitida do trabalho por manter um relacionamento com um colega de trabalho casado. Débora tem 63 anos, Décio 80; os dois são amantes há 40 anos. Estas são algumas das histórias analisadas em A outra: estudos antropológicos sobre a identidade da amante do homem casado, obra que a Editora Record relança em edição revista e ampliada - praticamente um livro novo, já que a autora, a antropóloga Mirian Goldenberg, incorporou ao ensaio publicado em 1990 outros dois estudos complementares. O livro traz uma abordagem séria e inovadora de uma situação muito presente na sociedade brasileira. A autora realizou uma pesquisa cuidadosa e original com mulheres que foram ou são amantes de homens casados, bem como seus parceiros e suas famílias, buscando desvendar os preconceitos e estigmas que envolvem esse papel social. Mirian Goldenberg levanta importantes questões no decorrer do trabalho, tais como: existe uma identidade específica da mulher que é amante de um homem casado? Como essa identidade é construída? Qual o papel da esposa do amante na construção dessa identidade? Quais são os valores e compromissos dessa relação? Como a outra constrói a identidade do amante e de sua esposa? Quais as tensões e ambigüidades envolvidas nessa situação? A autora utiliza-se de vasta bibliografia sobre sexualidade, casamento, família, identidade feminina e masculina, estigma e desvio, tudo de forma sucinta e numa linguagem acessível. Mirian propõe uma série de reflexões sobre todos os personagens envolvidos no drama - a amante do homem casado, "o marido traidor", "a esposa traída" e os familiares -, estabelecendo um interessante contraste entre as diferentes versões existentes sobre o papel da outra. Mirian Goldenberg é doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro e autora de Toda mulher é meio Leila Diniz, A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em Ciências Sociais, A revolução das mulheres (com Moema Toscano) e Nicarágua - Nicaragüita: um povo em armas constrói a democracia.