Este livro, organizado pelas pesquisadoras Maria Cristina Leandro Ferreira e Freda Indursky, pretende contribuir para consolidar e divulgar a força, a contundência e a supreendente contemporaneidade do pensamento e da teoria formulada por Michel Pêcheux. Constitui-se de vinte e nove textos, assinados por trinta e seis pesquisadores de Análise do Discurso de diferentes instituições do Brasil e da França, como Eni Orlandi, Françoise Gadet, Jean-Jaques Courtine e Michel Plon. O discurso foi sempre para Michel Pêcheux objeto de uma busca infinita que, sem cessar, “lhe escapa”. É no discurso, precisamente, que se concentram, se intrincam e se confundem, como um verdadeiro nó, as questões relativas à língua, à história e ao sujeito. E é também onde se cruzam as reflexões de Pêcheux sobre a história das ciências, sobre a história dos homens, sua paixão pelas máquinas, entre outras tantas. O discurso constitui-se, assim, no verdadeiro ponto de partida de uma “aventura teórica”. E todos nós que nos interessamos pelas questões discursivas e que, por esse caminho, nunca plano, nem acabado, mas ,ao contrário, sempre tortuoso e deslizante, um verdadeiro “processo sem início nem fim”. Essa idéia nos remete à figura da Banda ou Fita de Moebius, que mostra a impossibilidade de se estabelecer os limites entre o avesso e o direito, entre o interno e o externo, já que cada lado representa essas duas faces ao mesmo tempo, acabando com a dicotomia habitual de separar os fatos que são da língua e os que são extralinguísticos. A representação da Fita ou Banda de Moebius também nos ajuda a entender por que a língua, assim como o discurso, não constitui uma estrutura fechada, homogênea, estável. Essa estrutura, esse todo representável que é a língua comporta em si igualmente o não-todo, o não-representável (o “introuvable”).