Cássia Janeiro, com toda a maestria de quem maneja o texto com total intimidade, nos remete a um universo melancólico, caótico, onde as personagens expõem suas feridas, circulam desfazendo-se em dor, desesperança, sofrimento. É a vida pós-pandemia surgindo em um Brasil dominado pelo arbítrio, violência, falta de ética e preconceito. O país resultante das eleições de 2018. Não à toa o suicídio é tema tão frequente, saída que terminamos aceitando, junto com a autora, como caminho mais natural e digno ante as misérias particulares de cada um aqui colocadas. E acabamos percebendo nosso estômago contraído. A realidade trazida, conhecida e corriqueira, faz com que lembremos de problemas muitas vezes ignorados ou postos de lado, derruba os mecanismos de defesa necessários ao cotidiano em que estamos mergulhados. Ao mesmo tempo, a surpresa provocada por alguns finais inesperados, o valor estético, e o enredo eficiente em nos fazer apreciar as narrativas ágeis e bem-escritas aqui [...]