Alexandre Brito tem uma poesia da intimidade. Nasce na intimidade com a palavra. Poucos são capazes como ele de encontrar palavras escondidas dentro de uma palavra aparentemente banal. Poucos são capazes de revelar tão surpreendentes associações de forma, de som e de sentido. Como quem passeia lá pelo interior da linguagem. Daí a escrever poemas curtos, longos, sonoros, livres, visuais com a mesma naturalidade. Mas a intimidade do Alexandre também desce ao interior das idéias, dos sentimentos, das percepções, dos objetos, da paisagem. É capaz de achar um solo de percussão na escova do engraxate. Uma indagação socrática num toque de calcanhar do ex-craque Sócrates. Toda a luz do dia numa borboleta amarela. E muito mais. Descubra você, leitor. Neste volume, Alexandre reúne uma série polpuda de inéditos, além dos poemas de livros anteriores, como Zeros e Visagens. Seu trabalho começou ali na virada dos anos 70 para os 80. Numa leva de livros que renovaram o panorama da produção poética brasileira, ao lado de Fred Maia, Alice Ruiz, Leminski, Alexandre transitou pelo haicai, pelo poema breve, com pitadas de experimentalismo e poesia concreta. Não se enquadra numa poesia espontaneísta, anti-intelectual ou anti-canônica. Pelo contrário, tem cânones como Bashô, como Oswald, como os irmãos Campos e Décio Pignatari. É uma poesia com consciência da linguagem. Mas, ao mesmo tempo, é comunicativa, cheia de insights. Alguns poemas caem muito bem em voz alta. Tanto que Alexandre sabe dizer como ninguém seus poemas. Outros funcionam e funcionaram graficamente em camisetas, cartões, cartazes, agendas. Seja tendo a voz como suporte, a página, ou qualquer outro material gráfico, a poesia do Alexandre vem fazendo sua história nesses já mais de vinte anos de produção. É ótimo tê-lo aqui, reunido em livro, pra ver que, assim com diz em seu poema, sua poesia está sendo tudo o que deseja até não haver desejo que já não seja.