Na semana entre o Natal e o ano novo (época propícia para balanços, planos, retrospectivas e depressões), enquanto a filha passa férias com o pai, uma mulher de trinta e poucos anos, desquitada, senta-se diante do gravador e narra para si mesma os principais acontecimentos que viveu durante o ano, ritual que ela repete de 1984 a 1992. Quer solidão maior do que passar a tarde falando num gravador pra ouvir a própria voz? Mas o que pode parecer excessivamente dramático ganha contornos tragicômicos. Em 'Alameda Santos', além da paixão exagerada à la Cazuza, das brigas com o ex-marido, das rejeições amorosas, da tumultuada paixão que vive por um homem casado, da vontade ininterrupta de se atirar do oitavo andar e morrer esborrachada na Alameda Santos, Ivana também oferece uma viagem ao final dos anos 80, quando a AIDS ainda não era o que veio a ser e o sexo era celebrado com frenesi. Temos aqui um retrato do Brasil que lotava praças na esperança das Diretas Já e celebrava o sol da democracia raiando no horizonte. Época em que o karaokê e o vídeo cassete viraram manias nacionais. A história termina em 92, quando a AIDS ceifava vidas aos borbotões e o Brasil se comovia com o assassinato de Daniela Perez. Tempos de hiperinflação e presidente deposto.