Escritas – filosofia e gênero é a mais recente obra com a qual nos brinda Carla Rodrigues, reconhecida feminista, especialista em autores como Jacques Derrida e Judith Butler e a quem tenho o privilégio de chamar de amiga. Escritas é, no melhor e mais potente sentido desse termo, um livro de transição. Os textos aqui reunidos, escritos ao longo de seus mais recentes estudos, portanto posteriores às obras que todos conhecemos (Coreografias do feminino, de 2009, e Duas palavras para o feminino, de 2013), marcam sua experiência como professora de Ética e Filosofia Política na UFRJ, sendo, essas escritas, os frutos das pesquisas direcionadas a seus cursos e seminários. Além de reiterar as razões pelas quais Carla Rodrigues é considerada referência nos pensamentos feministas e da desconstrução, este livro alarga ainda mais seu campo de atuação como filósofa, mostrando fôlego e coragem para enfrentar autores considerados por muitos insondáveis, como Kant, Hegel, Walter Benjamin e Lacan. Outro traço marcante de Escritas é a amplitude temática que se apresenta na obra, através da qual a filósofa flerta e seduz com a trama que tece entre filosofia, política, literatura, psicanálise e cinema, mostrando sua competência e maturidade filosóficas. É nesse sentido que queria sublinhar aqui que o livro com que Carla Rodrigues nos dá de presente é a atestação de um percurso filosófico consistente e sincero. Se, antes, Carla já firmara seu lugar o panorama ético-político como profunda conhecedoras dos temas feministas e em torno do feminino e das mulheres, este livro amplia de modo significativo sua assinatura filosófica. Sua ética e sua política, agora, ainda que sempre marcadas pela alteridade que até então guiou suas escritas, parecem se voltar mais radicalmente à preocupação com a vulnerabilidade constitutiva de todo e qualquer vivente, nas diferentes matizes, nas diferentes formas de ser ferido, nas diversas fragilidades pelas quais o poder (masculino, macho, hetero, cis, branc