Enquanto muitos morrem, sobreviventes emergem dos escombros do mundo. A poesia que se perde e silencia, no cerne das distâncias impostas, sem lugar, sem canto, forçada a olhar-se num espelho, labirinto sem saída, muros e bloqueios. Máscaras, redes, drones, acabam por criar vazios. Gárgulas e pássaros, uma ponte pênsil liga as janelas dos apartamentos. Em Canto algum não há rimas, há conversa com o senhor da capa do Vinil do Led Zeppelin, a sutileza e o incômodo dos chinelos do lado de fora da porta que não têm para onde ir. Estes versos não estão na linha de frente, não são capazes de salvar um enfermo contaminado na pandemia, nem mesmo salvam a poeta que os escreve. A poesia insere-se na dor, doma os efeitos do sem saber, transmuta gritos e toca chocalhos, ainda assim, ela só precisa de uma gota de qualquer antídoto que a torne viva.