Livro "Enjaulados" questiona o papel do sistema penitenciário brasileiro utilizando o relato de um ex-prisioneiro Com prefácio de Rodrigo Pimentel, ex-capitão do BOPE, será lançado em 18 de novembro, na Livraria Argumento, do Leblon, Enjaulados, quarto livro do advogado criminalista Pedro Paulo Negrini, em co-autoria dos jornalistas Marcelo Auler e Renato Lombardi. Enjaulados surge como um retrato contundente do cenário real do sistema penitenciário brasileiro. Seu foco está na história de Rogério Aparecido, 28 anos, casado, dois filhos, que vivia para sua família e para o seu trabalho e que, de um dia para o outro, estava trancado numa cela. O personagem (real) deste livro vai contra todos os "pré-conceitos" estabelecidos pela sociedade em que estamos inseridos contra a idéia que fazemos de grande parte dos presos, os "enjaulados" do país: Rogério, apesar de pertencer a uma classe social humilde, é branco, descendente de italianos, réu primário, sem passagem por unidades de menores infratores. Não tinha condenações por tráfico ou roubo. Cumpriu seis anos de pena por homicídio. Soma-se a esse relato inicial apresentado por Negrini, o do nascimento e da evolução histórica das gangues e comandos, entre eles o CV e o PCC, que passaram a dominar os sistemas penitenciários dos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo. São textos de jornalistas, o carioca Marcelo Auler e o paulista Renato Lombardi. "Há um código de honra entre os ex-presidiários. Ter ficado preso confere uma espécie de status. "Mano, eu estive lá". Encontram-se. Entendem-se. Na verdade, escrevi esse livro sem o objetivo de advogar uma causa, mas para defender a sociedade. O Estado gasta uma estupidez com o sistema penitenciário. Como a prisão não é perpétua, um dia o preso sai. Gasta-se muito dinheiro para piorar esse homem. Faz sentido?, questiona Pedro Paulo Negrini. Enjaulados não questiona os motivos pelos quais Rogério foi condenado, nem a justiça ou a injustiça de sua prisão. "Apresentar Rogério como vítima de uma falha processual não seria ficção. No entanto, mostrar Rogério apenas como vítima determinaria pena e compaixão (...). A opção mais corajosa - adotada pelo autor - foi apresentar Rogério como um preso, e ponto final. Rogério, que poderia ser nosso irmão, nosso filho, nosso amigo, estava na cadeia e esta realidade, vergonhosamente ignorada por todos nós, agora bate à nossa porta. Apenas torceríamos para que ele cumprisse sua pena e voltasse para sua família são e salvo, e que a cadeia não o tragasse de uma vez por todas para o mundo do crime", comenta Rodrigo Pimentel em seu prefácio. A obra põe em xeque o papel reeducador do sistema e as possibilidades ou probabilidades de um presidiário chegar vivo, inclusive psicologicamente, ao final do cumprimento da pena. E mostra tudo que ele precisa fazer para chegar até lá. "A leitura nos leva a um mundo inimaginável, com seus códigos e valores próprios, as relações de poder, o cotidiano dos presos, os rituais de passagem. As construções dos grupos sociais dentro da cadeia são tão bem explicadas que a obra adquire incontestável valor etnográfico. Enjaulados é uma obra completa, essencial para pesquisadores, agentes da lei, jornalistas, e o mais importante: para o cidadão brasileiro que queira sair do senso comum e mergulhar (...) no nosso coração das trevas, uma selva feita de concreto armado, sangue e dor, que ainda nos assusta pela sua imprevisibilidade e pela capacidade de expor o lado mais inerte das autoridades públicas. Enjaulados é uma dessas obras definitivas sobre o Brasil", sentencia Pimentel. Ao fim da leitura de Enjaulados a questão/afirmação que se coloca é "A cadeia segrega?". "Sim", responde Negrini: "Mas o preso vai voltar. Mal comparando, é como se ele estivesse sendo colocado num hospital, sem médico, sem enfermeiro, sem remédios, sem coisa nenhuma. Na cadeia, tudo se compra e tudo tem preço. E para entrar na cela, é preciso pedir licença