O leitor atento deve ter atentado, há um tempo atrás, que a Argentina enfrentou uns fundos de investimentos norte-americanos que queriam receber o valor de face dos títulos que haviam comprado e já ganhado muitos juros. Outros fundos concordaram com largo desconto, fecharam acordo e receberam grana grossa. Esses fundos recalcitrantes e famintos foram chamados de abutres, essa pobre e caluniada ave, que se alimenta de carniça e presta bom serviço de higienização do planeta. O desprestígio dessas aves é injusto pelo tratamento que lhes oferece o mercado financeiro globalizado. A narrativa de Ariosto A. de Oliveira, que o leitor tem diante dos olhos, explora com humor e ironia, mas a sério, os mecanismos que os exploradores de dívidas públicas – ou privadas – desenvolvem para ganhar tudo o que podem – ou não podem – e mais um bocado.Os fundos abutres operam no mercado global financeirizado na busca dos resultados mais espetaculares sem qualquer preocupação com valores civilizatórios ou culturais ou mesmo ligação com a chamada economia real. As finanças e sua abstração bastam. por isso essa narrativa debruça-se sobre o comportamento e a psicologia de operadores desses fundos, olhando-os em suas facetas cômicas e sinistras como quem olha para gente normal e danificada ao mesmo tempo. A normalidade do anormal que parece constituir a fauna mercantil que hoje meio que governa o mundo.