Ler Cancioneiro da desilusão é embarcar em duas viagens. A primeira é a do narrador personagem, descrevendo vivências de um imigrante japonês que chega ao Brasil na segunda metade do século XX. A segunda é a do leitor dentro de si mesmo, à medida que o texto apresenta condições humanas universais, propiciando contemplações sobre a própria vida: a expectativa causada pela iminência do contato com o novo, a sensação de despertencimento, os caráteres braçal e moral do trabalho são temas que instigam tanto reflexões pessoais como a empatia com o imigrante que chega em terra estranha. Do mesmo modo como esse leitor duplamente passageiro, no renga (??, poema encadeado), também as estrofes estão em um jogo de duplicidade. A estrutura desse gênero de poesia japonesa é tal que toda sequência de duas estrofes constitui um poema. Sendo assim, à exceção da primeira e da última estrofes, todas as outras formam dois poemas: um com a sequência de versos antecessora, e outro com aquela que vem(...)