A gramática tradicional é um elemento de "conhecimento dos sistemas de saber" e um "instrumento lingüístico". Deve ser, portanto, considerada como um lugar em que se inscreve parte do saber sobre a língua, que, lá registrado, faz e preserva a história do pensamento lingüístico. Por essa razão, é relevante, não somente do ponto de vista histórico e social mas também da tecnologia do conhecimento. A autora investiga neste livro, no discurso fundador da gramática portuguesa, a presença do uso da língua e, por isso, o objeto da pesquisa é constituído pelas duas primeiras gramáticas, a de Fernão de Oliveira, Grammatica da lingoagem portuguesa, publicada em 1536, e a de João de Barros, Gramatica da língua portuguesa, publicada em 1540. O objetivo fundamental desta obra é examinar a presença e funcionalidade do uso nas duas primeiras gramáticas, para mostrar como elas constituem importante instrumento de registro de um estado de língua e como cada gramático maneja o uso e constrói a norma lingüística, obrigatória aos usuários do estrato sociolingüístico ao qual estão voltadas. Este trabalho insere-se no quadro da Historiografia Lingüística, já que visa a descrever e a explicar como os autores da gramática portuguesa do século XVI aproveitaram e registraram o uso lingüístico, e qual foi sua funcionalidade perante a doutrina gramatical.