Na infância, Maria Letícia, autora de 'O amigo invisível', era chamada de Tixa, não por acaso o mesmo apelido da protagonista deste livro, que pode ser considerado biográfico. Na sala de visita, no canto do piano ou na cozinha, não havia um lugar em sua casa em que não se debatessem os rumos do país, então nas mãos de Getúlio Vargas. Tixa não perdia um movimento, seja de seu pai, um advogado com entrada no próprio Palácio do Catete, seja de seu amigo com suas botinhas brancas próprias para pé chato. Ninguém mais conseguia vê-lo, mas Tixa não se importava tanto com isso; o mais importante era que agora ela tinha com quem brincar e não precisava mais aturar as brincadeiras de menino de seu irmão mais velho. Aquele amigo era cúmplice de seus sonhos libertários. Tixa era uma menina esperta. Não queria apenas brincar de boneca ou pular corda. Gostava também de poesia e de política, e não perdia a chance de questionar todo mundo. De maneira leve, com olhos de criança, Maria Letícia apresenta o turbulento panorama político do Brasil de 1954 e nos convida a presenciar os conchavos envolvidos na candidatura de Juscelino Kubitschek, por exemplo. As reuniões que ocorriam em sua casa eram feitas a portas fechadas. Mas nestes momentos e em outros momentos de solidão, ela tinha seu amigo invisível para consolá-la.