Em 1937, George Barnes, então produtor no Talks Department da rádio BBC de Londres, organizou uma série de transmissões sugestivamente intitulada Words Fail Me, as palavras me faltam, ou me falham. Em 29 de abril de 1937, sua convidada Virginia Woolf teve sua voz transmitida para os ouvintes da BBC no que chamou de um talk sobre a natureza das palavras, postumamente publicado como o celebrado ensaio “Craftsmanship”[1]. No único registro de sua voz que sobreviveu ao tempo, até onde se tem notícia, Woolf celebra a “natureza altamente democrática” da palavra, e se pergunta: “como podemos combinar as palavras velhas em novas ordens para que elas sobrevivam, para que elas criem beleza, para que elas digam a verdade? Esta é a questão” (Woolf: 1937, p. 204). Para produzir verdade (categoria sempre temporária na obra de Woolf, que se constrói e se desconstrói na escrita), ela nos convida a trabalhar os “ecos” das palavras e a observar a “liberdade” delas – essa “qualidade misteriosa” que lhes permite viver “diversa e estranhamente” em nossas “mentes”, “casando-se” com outras línguas e raças (Woolf: 1937, p. 205). Conversas com Virginia Woolf nasce do trabalho de ouvir a escrita da autora inglesa, procurando permitir, nessa escuta atenta e delicada, que os ecos de suas palavras ajam democrática e livremente em “novas ordens”, em novos “casamentos” com línguas, lugares e tempos diversos. Afinal, as palavras vivem em nós – nas nossas mentes, em nossos corpos –, não nos dicionários, Woolf nos diz (1937, p. 204-205). Ao escutar os ecos das palavras de Woolf em seu tempo e no nosso, as/os autoras/es neste volume elaboram conversas em torno das questões dos gêneros literários e performativos, do humano e do não humano, da escrita e da pintura, do feminismo e da écriture féminine, do Estado democrático de direito e de seus limites, do biográfico e do autobiográfico, adensando e tonificando a qualidade X de Virginia Woolf. Ao pensar esta coleção por meio de uma conversa com Clarice