Márcia Barbieri é uma verdadeira artífice do verbo – quebra regras, desordena a forma de narrar e causa em seu leitor o mesmo efeito das intervenções urbanas capazes de deslocar um cidadão de sua realidade comum e medíocre. Parafraseando Nietzsche: o leitor de Barbieri não é o de pontos e vírgulas. Encarar sua escrita é ter consciência que a ausência de sentido é o corpo de sua obra, entretanto há mais realidade em “O enterro do lobo branco” do que o leitor possa imaginar. A autora sempre trabalhou em seus livros com questões incômodas e que geralmente são evitadas e silenciadas pelo suposto mal-estar que podem suscitar. Barbieri expõe as vísceras, os escarros, os fluxos e o animal que vive entre quatro paredes e que tentamos inutilmente não expor, pelo contrário, tentamos demonizá-lo e a demonização o torna ficção quando deveria ser trazido para o campo das realidades e trabalhado.