Coragem não falta ao jovem poeta gaúcho Fabrício Carpinejar. Se ele realizou um poema longo com o premiado Um Terno de Pássaros ao Sul, agora nos oferece dez elegias sobre a velhice. Apresenta novamente um narrador e uma peculiar visão de mundo. Terceira Sede, lançamento da Escrituras Editora, é poesia narrativa em alto estilo, uma aventura na linguagem. Já no título o autor revela a riqueza do tema: evoca a terceira idade como sede, avidez, procura. Trata-se de uma crítica aos costumes de nossa sociedade, que relega os aposentados ao segundo plano, e ao mesmo tempo uma declaração de amor à memória e a tudo o que ela toca. "Só na velhice conheci o brio/ de viver com vagar." A obra traz o relato de um protagonista na maturidade, que sente falta da esposa e faz um balanço de sua trajetória, abordando a vida com extrema lucidez e honestidade. Ele é uma espécie de Jó bíblico contemporâneo. Perdeu tudo, menos a fé. Realiza o inventário de sua passagem: recorda da infância, contextualiza suas escolhas, estabelece uma relação de empatia e cumplicidade com o leitor. Em evidente movimento ficcional, Carpinejar lança seus olhos para o futuro. Como avisa na abertura: "O livro é de 2045, escrito aos 72 anos. Como posso ter morrido antes, decidi antecipar a velhice." Carlos Heitor Cony caracteriza Carpinejar como um pesquisador da alma e dos apelos humanos, ressaltando que "sua entrega à poesia é total, urgente, inadiável". Cony ainda chama atenção para a universalidade do enredo: "Terceira Sede é embrião e súmula da viagem que todos fazemos em busca das estrelas". Versos de um só fôlego, toda elegia está encadeada na outra, como capítulos de um romance versificado. O crítico Luís Augusto Fischer evidencia o texto como mais um feito notável do escritor: "delicado, triste, elegíaco, como está anunciado e acontece mesmo, em todo o livro. Que começa estranho e termina íntimo