"Nada é sagrado para um sapador" – o verso decassílabo de um velho poeta francês parece ter sido inventado para revelar o registro e a postura do novo livro de Airton Paschoa.Trata-se mesmo de um trabalho de sapa (ou de sapo a devorar implacável e insaciável todas as sopas de todos os insetos) que examina sem descanso a terra calcinada das nossas ilusões e desilusões. Assim, as (in)Citações é uma recolha de incitações, excitações e insinuações, que também muito cita, a respeito (! com o desrespeito imprescindível) das ruínas e chateações em que vivem os bípedes implumes e bipedais (ou quadrupedais) que pisam estes brasis.O trabalho de sapa nesses escritos integra o avanço da sátira e do sarcasmo como avanço de tropas frescas prontas para a demolição, mas sem conquista. Porque nada há a conquistar nem estabelecer visto que tudo o que está aí apenas merece o picão, a picareta e o fogo.Nada sagrado a preservar, nem sequer a escrita, que vai desconstruída para que ela não se ponha perfidamente a recompor e reafirmar valores imprestáveis nas formas de ideias feitas, chavões, estereótipos e da doxa midiática.O combate vai fundo e longe – mantendo a conspiração das obras anteriores do autor – sempre na busca do antilirismo e da antiliteratura,sobretudo de pôr à prova o que foi e vai sendo escrito por nossas camadas letradas, como se fosse a voz do povo e problemas e interesse do povo.