Foucault disse, em "História da Sexualidade II – O Uso dos Prazeres", que problematizar é a “tarefa de uma história do pensamento por oposição à história dos comportamentos ou das representações: definir as condições nas quais o ser humano “problematiza” o que ele é, e o mundo no qual ele vive”. É isso que se pode esperar da leitura do profundo trabalho de investigação executado neste livro por Anderson Trevisan. Fundamentado no que há de mais instigante nas análises fincadas na Sociologia da Arte (os textos de Pierre Francastel, que inventa a disciplina na França dos anos 1950), temos sempre em primeiro plano de análise uma investigação direta das obras de arte, aqui as páginas da revista, eleitas como elemento primordial de constituição de significados. Com isso se escapa de alguns modismos, atuais e antigos, de ver as manifestações artísticas como “reflexo” das condições sociais nas quais nasceram ou, mais atualmente, como mera derivação de “estruturas objetivas” e/ou posicionamento de autores e mecenas em lutas por poder, simbólico ou não. Este trabalho de Anderson começa, na verdade, anos atrás, quando elaborou sua dissertação de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da FFLCH-USP, sob o tema de “Aquarelas do Brasil: estudos sobre a arte “documental” de Debret.”