Por muito tempo, os ciganos mantiveram-se inacessíveis aos gadje (os não-ciganos). Motivos, tinham-nos de sobra para se portarem desta maneira. Afinal, foram séculos de perseguição, tortura, matança e difamação. Assim, famílias ciganas criaram rígidos códigos, cuja intenção era evitar o contato com o gadjo: quem descumprisse a regra era considerado impuro, passível inclusive de banimento do grupo. Os tempos são outros e a necessidade de se adequar às novas exigências do mercado, de fixar moradia, de entregar à escola a instrução dos filhos, de participar da vida política de um país (talvez bem distante de sua pátria original), tudo isso promoveu a aproximação dos ciganos com os gadje. Assim, o livro que se entrega ao público ( resultado da pesquisa em uma das maiores comunidades ciganas Calon do país ) destaca-se, em especial, por três aspectos: pela abalizada explanação acerca da origem e dispersão do "povo errante", até sua chegada às terras brasileiras; pelo inventário de palavras calon coletadas, algumas em primeira mão, e pela iniciativa de analisar fenômenos lingüísticos à luz dos princípios ecológicos, como preconiza o novo campo de investigação denominado Ecolingüística.