Como toda grande e autêntica poesia, a de Cláudio Neves é uma permanente surpresa, exigência que já fazia Baudelaire a seus pares durante o século XIX. Surpresa no que toca à dicção, à limpeza da linguagem, à sobriedade do ritmo, à música sutil das rimas toantes, ao inesperado das imagens e metáforas, aos temas que, repetidos, se renovam a cada poema, cada verso, cada palavra. Há neste poeta, um pouco à semelhança daqueles "metafísicos" ingleses redescobertos por Eliot no século XVII, um harmonioso matrimônio entre a emoção que pensa e o pensamento que se emociona, o que realça e ilumina não apenas o quê, mas também o como da expressão poética, tanto em seus versos medidos quanto naqueles em que a desmedida cadencia a pulsação de um ritmo mais largo e generoso.