Como mulheres da classe trabalhadora observam as representações femininas na publicidade? De que modo lidam com a dupla jornada aliada às exigências dos papéis de mãe e dona de casa? Como negociam os ideais de consumo diante da escassez orçamentária? Questões como estas são abordadas em Publicidade e Desigualdade. O livro é fruto de uma etnografia da audiência e do consumo realizada com mulheres da classe trabalhadora, com o objetivo de compreender como a relação das receptoras com os anúncios colabora para a conformação dos seus habitus de classe e de gênero. Os dados foram coletados ao longo de um ano a partir de observação participante, entrevista em profundidade e assistência compartilhada de comerciais selecionados pelas informantes, relacionando e comparando a percepção que elas têm das representações do trabalho feminino na publicidade com suas próprias experiências e sua autorrepresentação. O estudo reflete como as mensagens publicitárias sustentam a dupla subordinação a que estão submetidas as mulheres da classe popular e aponta que, embora reconheçam a valorização do estilo de vida da classe média, a idealização do trabalho e a dominação masculina, há, entre as entrevistadas, uma tendência à apropriação destes valores circulantes na publicidade pela naturalização do espaço e do papel que ocupam socialmente como mulheres e como classe trabalhadora.