A partir da obra de Ernani Silva Bruno, o autor nos apresenta um panorama consistente sobre a formação e transformações da cidade de São Paulo. Também nos mostra que a busca por uma identidade produziu em São Paulo um movimento contraditório: ao mesmo tempo em que se negava o passado, dentro do ufanismo paulista, no qual se afirmava ser a cidade que mais crescia no mundo, era preciso produzir esse passado como referência de legitimação da bravura bandeirante. Mas que cidade era essa, capaz de reelaborar as estruturas do Estado brasileiro? A resposta mais encontrada na historiografia é simples: o café impulsiona a economia paulista, disponibiliza capital e faz crescer a cidade de São Paulo. O peso para economia brasileira, desse produto agrícola, é tão grande que faz os novos ricos paulistas tão orgulhosos do seu poder que se sentem na obrigação de reinventar a identidade nacional. Uma identidade articulada às suas origens, em detrimento das demais regiões do país. A ferrovia tecia uma nova rede de desenvolvimento brasileiro. O centro de origem da história brasileira teria, agora, a marca de um povo quatrocentão. Começa, nesse sentido, um processo de descolamentos. Novos sujeitos, novos signos, novos símbolos. Um novo Brasil. Nem mesmo o regime político escaparia à nova ordem. O corpo da memória vai sendo composto pelas conexões. Tempo, espaço e territorialidade se misturam na composição da identidade paulistana.