Este livro é exemplo da boa antropologia e da contribuição que uma etnografia densa e competente pode dar para a compreensão do fenômeno dos quilombos e para a defesa dos direitos territoriais e intelectuais dos negros brasileiros que moram neles. Em suma, é uma exibição da antropologia como análise de parentesco, trabalho e política, que - ângulos diferentes de análise de uma situação humana e histórica concreta - combinam-se como as faixas do espectro social na análise da textura da vida humana. Em São Pedro e Galvão, no Vale do Ribeira, o africano Bernardo Furquim fundou no século XIX “um pequeno reinado africano em pleno Brasil escravagista”. É a mensagem central deste livro de Celina de Carvalho. Como se sabe, negros resistentes à escravidão formaram territórios livres por quase todo o Brasil, e os descendentes desses insurgentes reivindicam hoje o reconhecimento como quilombolas pelo Estado.