Ao iniciar o livro, Hell pede desculpas para, em seguida, continuar escrevendo sem culpas. A ação de se desvencilhar do sentimento cristão de culpa e da ideia de pecado dá o tom dos poemas, que refletem a posição da autore enquanto mais um ser do capitalismo tardio. Só sei viver politicamente afirma, convidando leitores a se colocarem enquanto sujeitos cheios de agência para se revoltarem contra o capitalismo, indicando os sinais de decadência desse sistema como um feliz prelúdio a seu fim. De quem diz escrevo, transformo, construo, brinco de demolição, Hell é a escritora punk da pele que arde e seguirá gritando enquanto haja voz como uma louca revolucionaria. Absurde, relacional, reative, anarke e fronteiriçe, Hell ateia fogo a si mesme ao dizer Eu não carrego o canivete / Sou o canivete, Eu não sou quebrada / Eu sou a própria quebra. Mas todo esse fogo não vem sem dor; a dor da neuroatipicidade e da ferida do capitalismo. A palavra dor é recorrente na obra, em uma tentativa de (...)