O que é o tempo? A uma pergunta ontológica, a resposta só pode se constituir como uma ontologia. É desse modo que neste livro se apresenta a filosofia fenomenológica hermenêutica de Paul Ricoeur, que também pode ser denominada uma ontologia da compreensão. Diferentemente da “via curta” de Heidegger, Ricoeur procura abrir o caminho de regresso da hermenêutica ontológica à epistemologia, dialogando com diferentes ciências, especialmente a história e a crítica literária. Na perspectiva de Ricoeur, todas as reflexões filosóficas de Agostinho, Aristóteles, Husserl, Kant, Heidegger e Hegel se encerram na mesma dificuldade de apreensão do tempo. A teoria cosmológica do tempo permanece na unilateralidade e na insuficiência, enquanto as especulações fenomenológicas do tempo, que se ambicionavam puras, mostraram-se incapazes de alcançar uma resposta integral e livre de aporias que permitisse compreender de forma transparente e especulativa o fenômeno temporal em toda sua amplitude e profundidade. Para Ricoeur, história e ficção reconfiguram nossa experiência temporal. Portanto, o discurso especulativo levado a seu mais alto grau de pensamento conquista espaço ao refletir e ordenar o discurso científico e poético na riqueza do pensar conceitual. É na linguagem da narrativa que surge a “resposta poética” às insolúveis aporias que a especulação filosófica descobre da tradição sobre o tempo.