Poesia é observação. Exercício de olhar e descobrir (ou criar) a composição extraordinária do cotidiano e forjar implicações impensáveis ao ordinário. Por isso, a poesia é uma ferramenta versátil para analisar o ser humano em relação ao meio que o rodeia e indicar novas possibilidades. E Salobre é um excelente exemplo da utilização desse instrumento, pois os poemas de Thiago Scarlata investigam um desenrolar social para tipificar a contemporaneidade e propor uma poética particular a esse contexto. É a partir do conceito de soro (solução de água, sal e açúcar, para hidratar e alimentar enfermos) que a primeira parte de Salobre explora a relação entre o homem e o ambiente. Uma relação travada na crueza e na escassez de um universo pré-urbano ou marginalizado pelo que é citadino, no qual o mínimo significa sobrevivência. A natureza provê a continuidade da existência (poemas salmoura ou tutorial para caçar baleias), não sem desespero (saco de lixo) e morte (Francisca). [...]