Publicado no Brasil pela Editora Globo, com prefácio de William Waack, Cabeça de turco revela a experiência de Wallraff ao viver mais de dois anos como um estrangeiro ilegal em seu próprio país. Usando uma meia peruca e lentes de contato muito negras que lhes emprestaram o mesmo olhar penetrante dos meridionais, falando um alemão tosco e canhestro, o jornalista submeteu-se a condições de trabalho que remontam ao início do capitalismo no século XIX, compartilhando com seus irmãos estrangeiros uma Alemanha distante do país ordenado e democrático presente no imaginário coletivo. Continuo sem saber como um imigrante consegue engolir as humilhações, as hostilidades e o ódio cotidianos, escreve Wallraff. Mas agora sei o que ele tem de suportar e até onde pode chegar o desprezo humano nesse país. O trabalho de Wallraff é ousado e perigoso, denuncia impiedosamente o ódio e a xenofobia que no início do século XX fizeram nascer Adolf Hitler e o nazismo, a rudeza e o nojo em relação ao estrangeiro, a muralha que impede a integração social de imigrantes sobretudo os pobres, provenientes de países em crise econômica ou política. Expõe, enfim, a frieza glacial de uma sociedade que se julga sensata, soberana, incontestável e imparcial.