Esta é uma das produções acadêmicas que permitem nos reconciliarmos com a teoria - e não com qualquer teoria -, com a pesquisa - e não com qualquer pesquisa - e, finalmente, com a produção intelectual, quer dizer, com essa mistura que combina, nem sempre de forma positiva, ordem e ambivalência, mas que sobretudo se propõe a partir da perplexidade e não da compreensão ou, dito de outro modo, da impossível vontade de compreender. Infância e maquinarias é uma combinação de todos esses elementos, e a sua leitura é, como a das teorias que a autora tem escolhido, múltipla e ao mesmo tempo aguda, incisiva, instigante. Apresenta justamente a possibilidade de pensar a infância não como determinação, coerência, congruência, compatibilidade, racionalidade etc., senão, pelo contrário, como uma diferença que pode e deve ser compreen-dida à luz de uma leitura da sua singularidade. Este livro é um exemplo de trabalho de pesquisa sério e criativo, profundo e radical, literal e literário. Carlos Skliar Alguns ainda insistem em considerar desmobilizadoras as perspectivas pós-modernas e pós-estruturalistas, como se, ao nos situarmos nesse lugar, estivéssemos desistindo de nossa identidade de intelectual e educadora. Discordo fortemente, uma vez que o questionamento, a dúvida e a investigação parecem-me, ao contrário, características fundamentais dessas identidades. Cito Linda Hutcheon para afirmar que, para o pós-moderno, "a idéia não é exatamente a de que o mundo não tem sentido, mas a de que qualquer sentido existente vem de nossa própria criação". Entendo que Maria Isabel foi coerente com essa idéia ao tratar da educação infantil brasileira contemporânea. Guacira Lopes Louro