Este livro trata de esperança, e de filosofia como interpretação da realidade à luz da esperança. O que marca é a percepção do amplo e férreo enclasuramento em que se encontram o ser humano, a natureza e a sociedade. Mas a astúcia da esperança a leva a se esconder dentro da própria desesperança, no insignificante, no que não conta. Há uma sombra que tudo cobre. Auschwitz é sua síntese. Não só a vida é feita refém, mas a própria morte. Justamente na sociedade mais avançada e com meios para uma vida digna. A violência que acompanha, hoje, processos de melhora econômica e cultural, como no caso do Brasil, é testemunha silenciosa dessa sombra incompreensível. É impossível viver a vida boa e livre numa sociedade coberta por essa sombra. O próprio reconhecimento disso nos é obscurecido. Mas a esperança ainda não morreu. Há uma luz que resiste à sombra que tudo cobre. Vez por outra ela cintila, nos lugares mais inesperados, acendendo raítos de esperança. Deles se alimenta a vida, e também a filosofia.Os materiais são de Adorno. A composição é do autor. Um dueto em que nem sempre as vozes se distinguem. Na própria forma o livro quer, também, testemunhar essa esperança. A consciência das diferenças e das especificidades dos tempos e dos contextos, refletida, pode dar lugar à paceria - ela própria gesto de esperança.