Foram diferentes os caminhos percorridos no ambiente de Paris por Claude-Nicolas Ledoux e Etienne-Louis Boullée. Vivendo e trabalhando muito próximos de áreas do poder e com grande capacidade de decisão, descobriram a sua própria indisponibilidade para responder à encomenda pública ou privada respeitando as limitações dos códigos clássicos. Tratando-se de duas personalidades muito distintas, acabaram ambos por se colocar intelectualmente próximos do racionalismo crítico dos neoclássicos da primeira geração, bem como dos seus émulos enciclopedistas, em nome dos princípios das vanguardas para a revolução das ideias. Posicionaram-se como arautos de uma atitude artística diferente sem evidenciar clara consciência revolucionária, mas assumindo o princípio da liberdade individual no processo criativo. Ledoux manifestou desde cedo tendência para a realização de obra inovadora, cuja característica principal foi a de respeitar velhas práticas artísticas mas estabelecendo sobre elas critério interpretativo e crítico à luz da ligação com o quadro de valores emergentes. Assentou saberes sobre as correntes tradicionais do classicismo em versão depurada das cargas decorativas com que a geração precedente tinha envolvido os enunciados maneiristas. Foi a desconfiança sobre a legitimidade dos dogmas, anunciada pelos arautos do racionalismo, que acabou por romper com a crença na divina proporção.