A epistemologia ou teoria do conhecimento tem seus inícios na época moderna, com pensadores como Descartes e os empiristas ingleses, entre eles Locke e Hume, consolidando-se como um domínio de pesquisa filosófica a partir da obra de Kant. Para esses autores, a epistemologia deve tratar das relações entre o que afirmamos sobre o mundo e as evidências que nos permitem fazê-lo ou, dito de outro modo, aquilo que justificaria nossas opiniões, crenças e teorias. Assim, para a epistemologia tradicional, o conhecimento é compreendido como crença verdadeira e justificada, não importando as práticas cognitivas ou investigativas reais, que deveriam ser estudadas pela psicologia e outras disciplinas empíricas, inclusive a pedagogia. No século XX, contudo, o movimento naturalista em epistemologia revolucionou suas bases, propondo que a epistemologia se ocupe também, e principalmente, de nossos processos e práticas cognitivas. Para naturalistas como Dewey e Quine, a epistemologia deve unir-se à psicologia empírica. Temas como o desenvolvimento e a aquisição de linguagem e a aprendizagem passam a ser assuntos para a epistemologia naturalizada. Ao colocar então em discussão os próprios fundamentos da epistemologia como disciplina, o naturalismo nos leva a tematizar o conhecimento em relação às concepções da mente e da ação humanas, enfim, de como o próprio ser humano é compreendido em sua relação com os outros e com a natureza. Este livro parte da própria formação da epistemologia como um domínio de investigação, de suas concepções tradicionais, e avalia algumas das mudanças significativas em suas noções fundamentais, sobretudo aquelas provocadas pelo naturalismo. Considera também as relações especiais que a epistemologia em sua nova conformação guarda com a psicologia e as modernas teorias sobre a mente. Segundo o ponto de vista adotado, investigação e aprendizagem são dois aspectos de um mesmo processo cognitivo no qual a teoria e a ação são também elementos indissociáveis.