Depois de comentar as Bem-aventuranças (O Sermão da Montanha, Quadrante, 1988), Georges Chevrot prossegue neste livro a análise do discurso do Senhor, concentrando-se nas três obras de justiça o jejum, a esmola e a oração que, segundo o conselho evangélico, devem ser praticadas em segredo. Este é o fio condutor de que Chevrot se serve para descrever as características da verdadeira relação com Deus. Acostumados à propaganda maciça e a todas as formas de auto-promoção, surpreende-nos que o Evangelho insista na necessidade de se praticarem as boas obras de olhos postos unicamente em Deus, fugindo dos aplausos dos homens para contar apenas com o sorriso de Deus. No entanto, a vida do cristão, se quiser ser autêntica, não pode nunca deixar de ser uma vida interior. É de Deus, e só dEle, que se deve esperar a recompensa. O farisaísmo religioso não é do espírito de Cristo. E esse farisaísmo, que começa pelo prurido aparentemente inócuo de chamar a atenção para o bem que se faz a fim de satisfazer o ego, pode acabar por distorcer a própria consciência e a conduta, inclinando-a a fazer somente o que agrada aos outros, o que está na moda, omitindo o que agrada a Deus. O cristão é um homem que não se importa de nadar contra-corrente, animado por uma pureza de intenção que resulta de uma vida escondida com Cristo em Deus. O longo comentário que o Autor faz do Pai-nosso, ao mesmo tempo que nos oferece uma explicação tocante e prática do alcance da oração do Senhor, situa-se também na linha de uma vida guiada pelo empenho de somente fazer o que Deus quer e querer o que Deus faz. Deus vê o que se faz, quando se quer que seja Ele o único a vê-lo. O resto, ignora-o. Esta obra de Chevrot é, por isso, um convite à confiança e à paz em Deus. Não te preocupes, ó viandante. Repousa na paz do entardecer, torna a caminhar pela madrugada com um coração novo, com um coração ágil. O Senhor Deus vai contigo. É sob o olhar do Pai que nos acompanha, benigno e animador, que ganham sentido o dia de hoje e o momento presente, como o Autor nos diz nos capítulos finais.