(...) estamos num momento no qual a psicanálise, fragilizada pelo seu próprio sucesso que a empurra para a psicologização, é objeto de ataques frontais muito violentos, lançados no interior de discursos antagonistas e inclusive recobertos pela onda do discurso capitalista que, no limite, só a reconhece para reduzi-la a uma forma de psicoterapia entre outras, com objetivos utilitários de curto prazo. Para resistir ao choque de um momento assim faz-se necessário apelar aos fundamentos. É preciso esperar que a psicanálise supere essa prova. Se esse for o caso, sairá renovada dessa passagem. Uma passagem na qual seus fundamentos são, ao mesmo tempo, convocados e colocados em questão. Nesse movimento (palavra que tem a mesma raiz que momento), a psicanálise repete o ato inaugural de seu nascimento, volta a passar por suas origens, que ao mesmo tempo reinventa no après coup, no retorno. Erik Porge é psicanalista em Paris, membro da EFP (École Freudienne de Paris) até sua dissolução, membro da associação de psicanálise Encore. Praticante hospitalar [praticien hospitalier], é o antigo responsável por um CMF (Centre Médico-Psychologique) para crianças-adolescentes. Publicou várias obras, traduzidas para diversos idiomas e dirige a Revista Essaim. Pela Mercado de Letras publicou recentemente o livro Voz do Eco, com prefácio de Claude Jaeglé e tradução de Viviane Veras.