a metaforista zilda catharina simcsik, húngara de nascimento, sua aldeia era cobiçada por todos, e a cada conquista era obrigada a aprender uma nova língua, respeitar novas botas e singelamente, aos pais, perguntar o que acontecia. imigrante em 1925, com 7 para 8 anos, foi separada da sua boneca “americana” de maneira bruta e assim descobriu rapidamente que o corpo podia ficar preso 2 meses num navio, mas a mente era livre para criar e a boca, mesmo censurada, poderia transmitir esperança, fazer colagens, desenvolver diálogos imaginários, trançar, costurar e provocar estranhamentos e distanciamentos. naturalizada brasileira, voltou à hungria, visitou alguns locais permitidos pelo sistema comunista e voltou com a certeza que o seu coração tinha o mapa do brasil. na época onde era proibido escutar rádio e até falar a língua materna, contagiava amigos, crianças e adultos com suas histórias e as incríveis descrições de cenários. este dom, uma arte, cresceu com suas experiências no teatro da colônia húngara, no seu interesse de estudar e a se tornar desenhista-modelista prática aliada a uma exímia florista na mooca tornou-se amiga de todas as colônias, conhecendo um pouco de outros costumes. suas comidas húngaras, adaptadas aos nossos condimentos, faziam e ainda fazem a nossa alegria... só seguir as receitas. como autora se debruça sobre assuntos corriqueiros, sem abusar da teodicéia, como cristã-espiritualista, mas os lapida pela observação e os coloca numa criação conjunta com o leitor, em estilo claro, coloquial e até, maternal. estamos diante do tesouro das metáforas de zilda: o que fazer deste conjunto onde a harmonia não é o padrão, mas que no contexto haberniano de “mundo da vida” não teria uma motivação subjacente que podemos calcular, inferir e até sentir pelos nossos sentidos e sentimentos? a pergunta que não quer calar: como se pode deixar de crer nas metáforas húngaras, criadas e lapidadas pelas mãos hábeis desta artesã da palavra e da validação