A necessidade de um deus remonta às mais antigas civilizações. Os homens sempre tentaram entender a natureza e sua própria existência por intermédio dos seus deuses. Os nórdicos tinham Thor, o deus do trovão; os gregos, o soberano Zeus; os romanos, Júpiter. Estes povos eram politeístas. Foi só com o surgimento do zoroastrismo – doutrina instituída pelo profeta Zoroastro ou Zaratustra no Irã - que surgiu o monoteísmo. O profeta ensinava que Ahura-Mazda, Senhor da Sabedoria, era o maior dos deuses e, entre todos, o único a merecer adoração. Segundo historiadores, essa doutrina monoteísta teria influenciado os judeus que só se firmaram como religião monoteísta após o êxodo do Egito. O judaísmo é considerado uma das mais antigas religiões do mundo. Os judeus julgam-se o povo escolhido de Deus e não aceitam Cristo como Messias. Quando Jesus nasceu, houve uma ruptura, uma vez que os judeus não o acataram como Messias. Mas o nascimento de Cristo (Deus encarnado) marcou o surgimento da maior religião ocidental – o cristianismo. Esta, em suas diversas faces – Jesus, Deus e as Escrituras –, sempre esteve presente na Literatura Portuguesa e Saramago não é o único autor não-católico a trazer os textos bíblicos para seus romances. O que interessa não é a confissão de fé ou ateísmo do autor, mas sim a importância de Deus como tema estruturador de seus romances. Este livro examina de que maneira Deus, que é a base das religiões monoteístas proféticas como o judaísmo e o cristianismo, se faz presente na ficção narrativa de José Saramago, e quais serão os perfis de Deus delineados em sua obra romanceada. Analisa quais os retratos literários de Deus na ficção do autor português, os quais, pressupõe, são construídos a partir da relação conflituosa e fértil dos textos de Saramago com a Bíblia, com as tradições e dogmas religiosos, a partir do tenso diálogo entre Literatura e Teologia, da negação desta por aquela, uma constante em suas obras.