Se o incesto sempre existiu, até a título de exceção ritual em certas culturas antigas e tradicionais, para preservar a pureza das linhagens dinásticas, ele já há algum tempo vem voltando como fenômeno vergonhoso em nossas sociedades. No entanto, nada indica que sua freqüência seja maior que antes: mas a penalização crescente desse crime pela justiça periodicamente o coloca sob os faróis da atualidade. Para além da opinião, ele interpela não só o juiz, o psiquiatra, o psicoterapeuta, o educador, mas também aqueles que têm a experiência dessa violência, pais e filhos, e nós todos na medida em que a passagem ao ato do abusador e o silêncio da vítima tocam nosso inconsciente. Que não nos enganemos: o incesto consumado não é a realização de um desejo edipiano, ele aniquila essa fantasia, transformada em traumatismo.