Todo mundo gosta de ouvir e de contar hsitórias. É narrando lendas que ouviram de seus pais, que por sua vez ouviram dos pais deles e assim por diante, que se constrói uma parte importante do folclore de um país. "Como nasceram as estrelas", de Clarice Lispector, reúne 12 lendas, uma para cada mês do ano, todas elas com uma lição de vida em que índio e cabloco são mestres. Sabia que as estrelas podem ser curumins gulosos levados por colibris? Já ouviu falar do uirapuru, o pássaro encantado da sorte que mora na Amazônia? Tudo termina em dezembro, com um belo conto de Natal em que um boi e um jumento aquecem o Deus-menino que acabara de nascer. Este é um livro de lendas; a estória que dá título, como todas as outras, fala de personagens do folclore brasileiro. Curupira, Saci-Pererê, índios... Mas o mais bonito neste livro - e nos outros quatro infantis da autora - é o estilo muito especial de Clarice para se comunicar com as crianças. Ela dialoga com seu pequeno leitor de igual para igual, só que, nesse caso, é a autora que diminui sua idade e volta a ser criança. Por sorte, uma criança cheia de sonhos, que dá valor ao maravilhoso espetáculo de vaga-lumes em céu escuro, que sugere não haver coisa melhor nesse mundo do que "comer batata-doce com café tinindo de quente" em festa de São João, mas que também assume seu lado Saci-Pererê, de molecagens e manhas. Para deixar claro que criança que não "apronta" não vive bem a infância.