Aos meus amigos, que a Editora Globo agora relança, não é a primeira incursão da consagrada dramaturga e roteirista Maria Adelaide Amaral no romance. É, talvez, a melhor. A começar do seu tema central, um dos principais da literatura de todos os tempos (porque um dos principais temas da própria vida): a amizade. A amizade, porém, se aqui rima com "fraternidade e solidariedade" (nas próprias palavras da autora), não rima necessariamente com felicidade. A história do romance, baseada em fatos reais da vida da autora, se articula em torno de um leito de morte. Na verdade, de um leito de suicídio, o do escritor e publicitário Leo (inspirado em Décio Bar, amigo da escritora, a quem o romance é dedicado). É o seu suicídio que, no agitado ano de 1989 (disputa feroz pela presidência da República entre Collor e Lula, fim dos anos 1980, queda do Muro de Berlim, começo do fim da Guerra Fria, fim do socialismo, ascensão dos EUA como única superpotência, expansão da AIDS, acirramento das questões ambientais e étnicas...), mobilizará a retomada da "velha turma", que vivera intensamente os ideais da esquerda nos anos da ditadura militar brasileira (1964-1985). Um reencontro feito também de desencontros, inclusive políticos. Sobre o livro, Caio Túlio Costa escreveu: "Um tratado metafórico sobre os amigos, um paradoxal elogio à amizade". À amizade em tempos de crise, se poderia acrescentar. Ainda assim, "um livro gostoso de ler, e que faz pensar", conclui o comentarista. Após o suicídio de Leo, seus amigos reúnem-se para velar o corpo e tentar manter viva sua memória, enquanto procuram os originais de um livro que teria deixado. Romance ágil, grandemente baseado em diálogos (do que a autora é mestra consagrada), mais do que em descrições, os fatos e personagens são, então, construídos e reconstruídos por referências e reminiscências, como nas conversas reais. É a palavra falada, enfim, que reina no romance, assim como na vida. E na TV.