O Anjo do Adeus, publicado quando Ignácio de Loyola Brandão comemorava trinta anos de literatura, representou uma novidade e um desafio em sua obra romanesca, um mergulho sem limites nas podridões da sociedade contemporânea. O subtítulo já diz (quase) tudo: "Sacanas honestos jogam limpo jogos sujos". Em ambiente de sujeira explícita e clima meio de pulp fiction, O Anjo do Adeus se desenrola num ritmo alucinante, de tirar o fôlego e o sono, revelando a face brutal de uma pequena cidade do interior brasileiro, Arealva. Uma história de ambição e luta pelo poder, pontilhada de sadismo, com uma sucessão de assassinatos, vinganças, mistérios, mentiras, sexo em desespero, farto consumo de drogas, ódios velhos e persistentes, que o cronista narra com cinismo, sarcasmo, alguma zombaria e absoluta fidelidade, segundo garante ao leitor no capítulo inicial, quando alguns envolvidos nos fatos tentam suborná-lo para alterar a história. Afinal, eliminar a memória ou disfarçar a realidade é uma atitude típica do povo local, com a qual, felizmente, o narrador não concorda. Nem tudo está podre em Arealva.