A globalização imprime novos traços à dinâmica socioeconômica, política e cultural da região Nordeste. As competições territoriais e as formas de utilização do fundo público na década de noventa apontam tensão entre estados federados e região. Emergem novas e inaceitáveis formas de controle do trabalho e, com efeito, a exacerbação da pobreza. Ao captar essa dinâmica e propor um modelo de desenvolvimento nacional segundo as particularidades regionais, os empresários-políticos cearenses investem na sua imagem pública na medida em que projetam um Nordeste moderno a se espelhar no caso do Ceará, que já estaria ligado "aos fluxos do mundo civilizado". Sua probidade, eficiência e eficácia são realçadas com vistas à destruição da caricatura do velho político nordestino. Simbolicamente transmutadas em vítimas sacrificiais, as velhas elites são imoladas como a exemplificar a re-fundação da política nesse Estado. Não obstante, o Ceará não se desprendeu do Nordeste, o que, no processo de auto-reconhecimento como moderno, o grupo levou a enfrentar o estigma da nordestinidade, fato que, dentre outros, conduz à grande ambigüidade do seu discurso: a região seria problema e promissão.