Sem aviso prévio, ficamos presos em casa. De uma hora para outra, a rotina mudou, a cidade se esvaziou, o tempo estagnou. Mas não o tempo da poesia. Insta fantasma, de Gabriel Morais Medeiros, é um mergulho no limiar do tempo. Ao longo da coletânea, percorremos desde a capital do Império Asteca, a Tenochtitlán inexpugnável, até o print-screen do zoom. Da origem do universo em Popol Vuh chegamos igualmente ao fim do mundo em lives. A era da internet, porém, tampouco escapa do prazo de validade, como nos adverte o poema: o colapso dos fóruns/internet dos noventa/morreram há tanto tempo/domínios angelfire, cjb. No entanto, e o registro das selfies? É possível ludibriar o esquecimento da morte com a captura de um instante passageiro? Num tom provocante, respondem os versos: variação de epicuro/filtro de selfie/a morte não existe/nem sequer quando morres. Se a marca do tempo perpassa a poesia de Gabriel Medeiros, a sobreposição de diferentes imagens também caracteriza a verve (...)