O poema de abertura, intitulado em reverso, logo estabelece o tom e conduz a leitura, nos levando pelo caminho invertido da seta do tempo por entre as quatro seções do livro, do morrer ao nascer. Paula Braga fala de perdas tanto as mais íntimas como aquelas que todos sofremos, de perto e de longe, nos tempos recentes de confinamento e fala da vida, desde as lembranças da infância e da adolescência até a maternidade, passando por aquilo que se espelha num filho. A construção dessa narrativa que costura os poemas e os temas é feita com apuro e sensibilidade, explorando as diversas camadas da existência ao mesmo tempo com profundidade e leveza, traduzindo em verso (e reverso) a essência da vida e da passagem do tempo. Desse modo, somos levados a confrontar a finitude e o envelhecimento, a mergulhar nas pulsões do desejo e a desvelar o poder transformador da palavra.