Há várias qualidades a serem ressaltadas no livro de Diego Lopes da Silva, agora publicado. Em primeiro lugar, é interessante notar a trajetória peculiar do autor. Confesso que não me lembro de ter conhecido ninguém que tenha se disposto a cursar tanto a graduação em História quanto em Geografia. Pensando bem, trata-se de algo espantoso até, dada a enorme complementaridade possível entre essas áreas. Afinal, como pensar o tempo senão enquanto se passando num determinado espaço? E como pensar o espaço sem estar situado em um tempo? Diego se dispôs a ser uma exceção à falta de formação nas duas áreas e isso já o mostra como, pelo menos, portador de uma dose razoável de coragem intelectual. Em segundo lugar, o trabalho é importante por apresentar um estudo científico de um livro da Bíblia, o Livro de Daniel. Num país onde a religiosidade tende muito mais a ser emocional e mágica, uma iniciativa dessas é quase um atrevimento. Trata-se, porém, de um atrevimento altamente saudável e bem-vindo. Não que a experiência religiosa precise ser filtrada ou moldada pela racionalidade científica isso provavelmente levaria ao seu esvaziamento , mas porque o estudo crítico de uma obra que tem importância religiosa pode inclusive ajudar a aperfeiçoar as crenças e práticas da religião. Como quer que se definam fanatismo e superstição, o estudo criterioso e o esclarecimento racional estão certamente entre seus melhores antídotos. Por outro lado, o livro de Diego ajuda a estabelecer mais um vínculo entre religião e ciência, que parece vir sendo colocado em dúvida há certo tempo nos meios acadêmicos e científicos. Tanto os religiosos podem se beneficiar com as informações aqui contidas sobre o Livro de Daniel, quanto os acadêmicos podem entender um pouco melhor sobre esse complexo e fascinante fenômeno que é a religião.