A abertura do rio Amazonas à navegação internacional constitui, sem dúvida, um tema vastíssimo, dado o longo período em que se desenvolveu e a complexidade de interesses nela envolvidos, e para ser convenientemente esgotado, demandaria inúmeros estudos de caráter mais específico, dentre os quais, a meu ver, poder-se-iam destacar as pressões de interesses regionais das províncias do norte em favor da abertura; a eventual influência da Guerra do Paraguai no desfecho da questão; os mitos criados e propagados no Hemisfério Norte sobre a Amazônia; as tentativas de colonização preventiva da região na década de 50 do século XIX; a importância do rio Amazonas, à época, como rota comercial, e as conseqüências da questão no posterior relacionamento entre o Brasil e seus vizinhos amazônicos, apenas para mencionar alguns. Em termos gerais, a síntese que se procurou realizar, com o intuito de produzir uma visão abrangente do encaminhamento da questão pelos órgãos executores da política externa brasileira e de outros países interessados, para ser referenciada, a seguir, ao debate parlamentar travado sobre o assunto no Brasil, levou a que, por vezes, fatos históricos de grande magnitude fossem apenas tangenciados, ou, quem sabe, mesmo omitidos, em virtude das inexoráveis limitações que este tipo de trabalho acadêmico forçosamente impõe. Dentre as fontes primárias utilizadas, além dos indispensáveis Anais da Câmara dos Deputados e do Senado, foram, sobretudo, valiosas as Atas do Conselho de Estado e as Consultas da Seção dos Negócios Estrangeiros daquele Conselho, com seus globalizantes e perspicazes Pareceres e explicações de voto, bem como a preciosa coletânea de Antonio Pereira Pinto, Apontamentos para o Direito Internacional, cuja transcrição e comentários de atos internacionais celebrados pelo Brasil foram de inestimável auxílio. Quanto à bibliografia, merecem especial menção, embora não com exclusividade, as seguintes obras: Fernando Sabóia de Medeiros, A Liberdade de Navegação do Amazonas; Relações entre o Império e os Estados Unidos da América, que extrapola aquele relacionamento bilateral em pertinentes considerações políticas e jurídicas; Álvaro Teixeira Soares, Um Grande Desafio Diplomático no Século Passado, ao se esmerar na análise do duelo diplomático entre o Brasil e os demais interessados na navegação do Amazonas; Nícia Vilela Luz, A Amazônia para os Negros Americanos, pelo levantamento exaustivo de dados e pela análise da questão sob o prisma do embate entre idéias industrialistas e escravagistas nos Estados Unidos; Arthur Cezar Ferreira Reis, A Amazônia e a Cobiça Internacional, por uma visão ampla de toda a problemática amazônica; Amado Luiz Cervo, O Parlamento Brasileiro e as Relações Exteriores (1826-1889), pelo quadro referencial da evolução da atividade parlamentar, e mais especificamente quanto à dialética protecionismo/liberalismo; João Camillo de Oliveira Torres, A Democracia Coroada; Teoria Política do Império do Brasil, pelo estudo da interação entre liberais e conservadores; David Gueiros Vieira, O Protestantismo, a Maçonaria e a Questão Religiosa no Brasil, por subsídios úteis sobre a influência da ideologia e pregação protestantes na questão e sobre a imigração de sulistas norte-americanos; e G. Kaeckenbeek, International Rivers, pela análise diacrônica da prática jurídica sobre a utilização de rios internacionais. O estudo tem como hipótese que a abertura do rio Amazonas à navegação internacional teve condicionantes fundamentalmente externos, e é por essa razão que inicia por construir o quadro internacional, político e jurídico, que determinou as pressões de países e de grupos contra o Brasil em favor da livre navegação daquele rio a todas as bandeiras.