A criminalidade feminina e o papel significativo do gênero ainda são um tema negligenciado na Criminologia, ainda que Carol Smart tenha advertido para a invisibilidade feminina no final da década de 1970. O estudo da criminalidade feminina deve levar em consideração que as mulheres estão submetidas a uma sociedade patriarcal e que os crimes por elas cometidos devem ser compreendidos de acordo com a posição que ocupam nessa mesma sociedade. O gênero pode ser interpretado como um sistema de relações culturais entre os sexos, criado a partir de uma elaboração simbólica, que transcende ao fato biológico de diferenciação sexual, permeado pela produção de normas culturais sobre o comportamento masculino e feminino e estabelecido com a colaboração de instituições econômicas, sociais, políticas e religiosas. O objetivo deste trabalho é compreender se e como as relações de gênero condicionam a prática de crimes de tráfico de drogas por mulheres no momento da visita a familiares presos no sistema prisional do Distrito Federal. O crescimento na criminalidade feminina registrada no DF, no período compreendido entre os anos de 2008 e 2014, foi mapeado e descrito, com a identificação dos tipos de crimes cometidos que, nesse mesmo período, ensejaram a prisão de mulheres. Neste trabalho, foi traçado o contexto da prática do crime de tráfico de drogas pela visitante de preso através de entrevistas em profundidade e do método da análise do discurso, para entender esse fenômeno e a possível relação de gênero que o influência. A partir das abordagens de gênero, buscamos compreender o universo das mulheres que são presas pelo crime de tráfico de drogas no momento da visita a seus familiares.