Sujeito de sorte: Belchior como o diabo gosta marca um encontro saudável entre a canção popular e o pen-samento filosófico. O cancioneiro vem de Belchior, poeta que ficou conhecido como “apenas um rapaz latino-americano”. O pensamento filosófico, por sua vez, já não é mais, como costumava ser no Brasil, um empréstimo de um autor francês ou alemão, para ser “aplicado” com ou sem sensatez sobre a matéria artística, mas uma produção original do próprio Autor, que pensa na medida em que medita cinco canções do álbum Alucinação, de Belchior. Nesse trabalho em que a erudição não atrapalha, mas deixa ainda mais fluida a leitura, a análise dos poemas-canções de Belchior cria uma das condições ou vias de acesso para a proposição de um conceito filosófico original, sob o pressuposto histórico-filosófico de que o povo desapareceu como realidade antropológica, esmagado que foi pela pressão da indústria cultural.