Desastres e calamidades sempre despertaram uma forma de governo diante do acontecimento de crise. Perante plantações ressecadas pelo Sol, submersas pelas águas da inundação ou destruídas por pragas, faraós, imperadores e demais governantes estabeleciam reservas de alimentos em celeiros, distribuíam alimentos e roupas para toda a população, perdoavam impostos nas áreas atingidas, etc. No mundo contemporâneo, tais mecanismos e dispositivos de poder se aperfeiçoaram. Desastres têm sido objeto de uma biopolítica: são inseridos numa série de acontecimentos prováveis, passam por cálculos de custo, elaboram-se métodos de observação, entram numa estatística, etc. Ademais, adotam-se técnicas de governo para declarar estado de exceção e criar fissuras no ordenamento jurídico, como Situação de Emergência (SE) e Estado de Calamidade Pública (ECP). Tais declarações são desconexas às demandas sociais de reconstrução e recuperação no médio, curto e longo prazos. [...]