Nos últimos anos desenvolveu-se, no domínio dos estudos literários e mesmo fora dele, um interessante debate acerca da questão do cânone, debate a que não são estranhos sentidos e até preconceitos ideológicos. Polarizado em torno da dimensão institucional da literatura e de aspectos significativos dessa dimensão como seja a sua presença no sistema de ensino, a discussão sobre o cânone levou inevitavelmente à ponderação de elencos de autores considerados canónicos e, na sequência dessa ponderação, à acentuação da função pedagógica e de legitimação simbólica atribuída a esses elencos. Se olharmos para os bem variados cenários em que, ao longo dos tempos, decorreu e se reafirmou a “canonização” de Gil Vicente, verificaremos que é indiscutível e até praticamente obrigatória a presença deste grande homem de teatro nesta série de volumes. Isso mesmo é confirmado em vários momentos desta monografia, confiada a José Augusto Cardoso Bernardes, um dos nossos grandes especialistas em matéria vicentina.