Fogo pálido (1962) é considerado o livro mais engenhoso e complexo de Vladimir Nabokov. Publicado depois de Lolita (1955), quando o autor já era conhecido mundialmente, o romance - originalmente escrito em inglês - tem estrutura de trama policial. Seu tema, porém, contrapõe-se ao tom detetivesco da narrativa: trata-se da análise de "Fogo pálido", um poema de 999 linhas, dividido em quatro cantos, escrito pelo personagem John Francis Shade pouco antes de morrer. O poema, magistralmente traduzido em rima e métrica, é a primeira parte do romance. A segunda, transforma poesia em ficção: são os comentários sobre o poema formulados por um amigo de Shade, Charles Kinbote, o delirante narrador do romance. Kinbote incentivara Shade a escrever "Fogo pálido", que fala da vida do seu autor e da lendária terra de Zembla. Charles analisa trechos da obra e, de forma mirabolante, relaciona o texto a ele próprio - Charles, rei de Zembla. Humor irreverente e espírito crítico (inspirado na experiência do próprio Nabokov como professor nos Estados Unidos) combinam-se nessa paródia da literatura de suspense, uma parábola magistral sobre a tarefa da imaginação na crítica literária.